Como a nova mídia fez Donald Trump ganhar a eleição
Quem é a machosfera da gente aqui no Brasil será ein?
Quando Donald Trump, agora presidente eleito, terminou seu discurso da vitória na manhã de quarta-feira, ele cedeu o palco para Dana White, CEO do Ultimate Fighting Championship, que agradeceu a um grupo de homens pouco conhecidos pela maioria do público político tradicional até este ano.
"Quero agradecer aos Nelk Boys, Adin Ross, Theo Von, Bussin' With The Boys e, por último, mas não menos importante, ao poderoso e grande Joe Rogan," disse White.
No final do ciclo da campanha de 2024, Trump embarcou em uma turnê de entrevistas em podcasts, aparecendo ao lado desses influenciadores populares, streamers e apresentadores e, talvez mais importante, em frente ao seu público majoritariamente jovem e masculino. Uma das estratégias mais promissoras da campanha de Trump era aumentar a margem com eleitores masculinos de baixa e média escolaridade.
Para isso, a campanha afastou Trump das câmeras de televisão e o colocou na frente de microfones de podcast, estabelecendo um novo padrão de como conduzir uma campanha online.
"A mídia corporativa, boa parte da mídia tradicional, não sabe mais como falar com os homens. Acho que esse é um grande problema", disse Alex Bruesewitz, assessor da campanha de Trump, em um recente artigo da Semafor. "A mensagem que vem da mídia tradicional não ressoa bem com o homem americano comum. E muitos deles buscam as notícias por meios menos tradicionais."
Por mais de quatro anos, grupos políticos e campanhas investiram tempo e dinheiro na construção de vastas redes de influenciadores para amplificar suas mensagens online. O presidente Joe Biden os convidou para a Casa Branca para briefings especiais, e eles o acompanharam na campanha até quando a vice-presidente Harris assumiu, 110 dias atrás.
Depois que Harris se tornou a candidata presidencial democrata, sua campanha foi inundada com novas doações e pareceu perder o rumo com o universo influencer. Até outubro, haviam recebido mais de 1 bilhão de dólares em novas arrecadações, segundo a CBS News. A enorme injeção de dinheiro deu a Harris uma vantagem, especialmente em publicidade digital e tradicional. A equipe de Harris superou os gastos de Trump em 20 para 1 em anúncios no Facebook e Instagram na semana do debate, segundo o New York Times.
Para compensar essa diferença, a campanha de Trump decidiu inundar as redes com conteúdo de influenciadores, que custava uma fração do valor da publicidade tradicional. “Precisávamos ser criativos para maximizar a exposição de Trump e essa foi uma maneira divertida de fazer isso,” diz Bruesewitz.
Enquanto Trump dominava os meios de comunicação conservadores, sua operação com influenciadores era quase inexistente, colocando a campanha em desvantagem. Mas, ao longo do último ano, a campanha e o Comitê Nacional dos Republicanos começaram a integrar influenciadores e criadores de conteúdo na operação eleitoral. Influenciadores foram convidados para os debates primários da RNC, e dezenas compareceram à própria RNC em julho.
Muitos desses criadores estão na "machosfera", uma comunidade de homens que compartilham conteúdo racista e misógino e que se escondem em becos virtuais como os de Steven Crowder, Ben Shapiro e Tim Pool. Outros influenciadores alinhados a Trump que participaram desses eventos espalharam teorias da conspiração sobre Harris, imigração, fraude eleitoral e outros temas. Trump parecia estar adorando tudo isso; ele até compartilhou postagens e se divertiu com a atenção online dessa garotada.
“Vivemos em tempos de enorme desconfiança na mídia tradicional, e as pessoas confiam somente nas pessoas, e influenciadores são pessoas,” diz CJ Pearson, copresidente do conselho consultivo de jovens do RNC. “Eles buscam nos influenciadores o que devem se apaixonar, com o que devem se indignar, com o que devem se mobilizar, e foi exatamente isso que queríamos fazer ao longo da campanha.” A era da honestidade na mídia - mesmo que talvez seja por detrás uma farsa - é o que está predominando. Conteúdo feito e lançado por mãos humanas, sem grandes corporações.
A campanha de Trump estava em desvantagem em relação às enormes operações de Harris. A equipe de Trump terceirizou grande parte dos esforços de porta a porta para o America PAC, financiado por Elon Musk.
Mas a campanha presencial pode não ter sido o fator decisivo. Bruesewitz acredita que a operação digital da campanha pode ter sido o que fez a diferença.
“Tudo anda de mãos dadas,” diz Bruesewitz sobre as operações online e de campo da campanha. “Estávamos fazendo contato direto com eles em suas portas e em suas telas.”
Hasan Piker, um popular streamer esquerdista da Twitch, diz que não foi apenas a disposição de Trump de aparecer nesses podcasts, mas também o que ele representava para seus públicos. “Alguns desses caras são meus amigos. Outros, nem tanto,” diz Piker. “Os próprios podcasts não foram exatamente o que fez Trump ganhar força ou popularidade. Eles tiveram um papel, sem dúvida, na divulgação, mas, no geral, acho que ele tinha uma mensagem que ressoava com esses caras, e o podcast foi simplesmente um veículo para alcançar esses caras.” disse o streamer em sua live ontem.
Eric Wilson, estrategista digital republicano, disse ao New York Times que essas campanhas de divulgação online são menos eficazes em persuadir o público sobre questões nacionais do que em mobilizar o público para votar. “Muitas pessoas não entendem o papel das campanhas de marketing de influenciadores,” diz ele. “Trata-se de saber se eles vão votar ou não. E o que vimos em alguns dos resultados foi que esses jovens, especificamente no público-alvo dos diversos podcasts e influenciadores, saíram para votar e foram fortemente a favor de Trump na noite passada.”
O próximo desafio, segundo Wilson, é implementar o marketing de influenciadores em campanhas mais locais. “Faz sentido para uma campanha nacional. É mais difícil de executar em campanhas estaduais, pois o público fica cada vez mais restrito,” diz Wilson.
“Não há como colocar um valor em dólares na mídia espontânea que obtivemos através dos encontros com podcasts e influenciadores,” diz Bruesewitz. “Joe Rogan, ou quem quer que fosse. Conseguimos alavancar a personalidade de Trump para obter alguns dos momentos mais virais da história moderna da internet política.”
Agradeço as fontes: New York Times, Semafor, Wired e Twitch.